São João de Caruaru 2010 - Na contramão da tradição

Vendo a propaganda de uma festa particular aqui de João Pessoa eu não me surpreendi tanto como me surpreenderia anos atrás. O nome da festa é São João Pessoa. Lógico que, pelo nome e pela época, dá pra deduzir que é uma festa junina. E é. O detalhe é que tem a banda Parangolé na programação, que é uma banda baiana de axé e pagode. Pois bem, nós já estamos vendo isso há algum tempo, tanto as bandas de forró se infiltrando nos carnavais, quanto o contrário. Mas vejam, as bandas de forró montam, quase sempre, a sua versão "elétrica", fazendo versões abaianadas de suas próprias músicas. Já as de axé e pagode não, elas tocam os ritmos carnavalescos mesmo, principalmente se estiverem no auge, como é o caso do Parangolé. Existem algumas boas exceções como a banda Chiclete com Banana que, nos tempos áureos, chegaram até a gravar um ótimo disco de forró mesmo, já pensando nas festas juninas. Mas o que me impressionou esse ano foi Caruaru. A festa que citei aqui de João Pessoa é particular, mas em Caruaru não. Lá, nesse ano, vai ter música pra todo gosto. O argumento é que a população é que pede isso. Estamos em ano de eleições e os políticos preferem abrir mão de agradar um punhado de tradicionais que chiam vendo uma programação que distorce a tradição do maior São João do mundo e jogam uma programação popular, que agrada o povão. Não vou radicalizar, afinal, a programação de raiz é majoritária, mas também não dá pra ficar despreocupado. O que devemos pesar é o seguinte: A música nordestina tradicional terá espaço em eventos fora da época junina na mesma proporção em que outros estilos estão sendo se inserindo dentro dessa época? A resposta todos nós sabemos. O chamado forró estilizado (Calcinha Preta, Forró do Muído...) e a banda Chiclete com Banana foram colocados  em matinés, como se fosse para amortizar a ferida que incide no tradicional. Os organizadores dizem que essa nova programação mais "democrática" trará um número muito maior de turistas, por volta de 2 milhões. Eu é que fico com 2 milhões de pulgas atrás da orelha.